Bibliografia Curt Nimuendajú

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 1928    

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1928

    

As chamadas obras linguísticas de Curt Nimuendajú ainda não tiveram seu valor totalmente explorado em pesquisas nas áreas científicas no Brasil.

Conforme alguns pesquisadores e linguístas, estas obras foram fundamentais na formação e na instituição da Linguística tanto como disciplina na área de Letras, como no âmbito das Ciências Humanas e Sociais no Brasil, principalmente através dos estudos das línguas indígenas.

 As “obras linguísticas”

Incluem ensaios e estudos gramaticais, listas (numerosas) de vocabulários, e textos com referências linguísticas.  Incluem ensaios e estudos gramaticais, listas (numerosas) de vocabulários, e textos com referências linguísticas. São 40 obras de tamanhos variados publicadas a partir 1913. Estes trabalhos se encontram em alemão, inglês ou francês.  Muitos permanecem inéditos aos estudiosos do autor e de sua obra.

viagens e tribos 1viagens e tribos 2

 

 

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Fonte: Nunes Pereira (1946)  

 Nimuendajú linguísta ?

“O ensejo da nossa correspondência mostra-nos ainda, senão o linguista ‘strito senso’, pelo menos o cientista dotado do necessário espírito crítico perante os argumentos de caráter universalista, a que abrange a Linguística geral.” (1948, p. 207). “O ensejo da nossa correspondência mostra-nos ainda, senão o linguista ‘strito senso’, pelo menos o cientista dotado do necessário espírito crítico perante os argumentos de caráter universalista, a que abrange a Linguística geral.” (1948, p. 207).
Cartas Etno-Linguísticas entre Nimuendajú e R. F. Mansur Guérios (1948)

Alguns trabalhos tentaram suprir, mesmo que de maneira parcial, parte do anseio por um levantamento definitivo das obras de Curt Nimuendajú. Alguns trabalhos tentaram suprir, mesmo que de maneira parcial, parte do anseio por um levantamento definitivo das obras de Curt Nimuendajú. (GONÇALVES 1993, WELPER 2001 e 2002, SCHRÖDER  2011 e 2013).

Estes trabalhos e pesquisas não tinham como foco específico as “obras linguísticas” de Nimuendajú.Câmara Jr (1959) publica “A obra linguística de Nimuendajú” que traz uma lista de publicações de Nimuendajú que se enquadram, conforma o linguísta, no grupo referido.  Câmara Jr (1959) publica “A obra linguística de Nimuendajú” que traz uma lista de publicações de Nimuendajú que se enquadram, conforma o linguísta, no grupo referido. 

Além da listagem, Câmara Jr (1959) apresenta dados de cada obra, como o ano de publicação, o número de páginas e descrições breves sobre seus conteúdos.
 Câmara Jr (1959) lista um total de 29 obras.

Pesquisa atual

O grupo de obras linguísticas deve se encaixar em pelo menos um dos seguintes critérios: O grupo de obras linguísticas deve se encaixar em pelo menos um dos seguintes critérios:
a) Conter uma lista de palavras indígenas e ou
b)  Um estudo sobre língua(s) indígena(s).

 Nova lista: Somatório de obras encontradas nas obras de referência e acréscimos realizados. Total de 40 obras.

Tabela obras lingusticas

 Incêndio do Museu Nacional

Além desse material listado havia também, conforme Leite (1960), uma enorme quantidade de textos linguísticos inéditos não cadastrados e não publicados, que tinham sido adquiridos junto à família de Nimuendajú, a maior parte ainda manuscrita, que se encontrava nos arquivos do Museu Nacional. Além desse material listado havia também, conforme Leite (1960), uma enorme quantidade de textos linguísticos inéditos não cadastrados e não publicados, que tinham sido adquiridos junto à família de Nimuendajú, a maior parte ainda manuscrita, que se encontrava nos arquivos do Museu Nacional. 
 Exemplo: mais de 50 listas de vocabulários de diferentes etnias, reunidos entre os anos de 1906 e 1940, apontamentos para gramáticas e quadros vocabulares comparativos de idiomas indígenas.

Línguas indígenas e a contribuição para os estudos Linguísticos

O desenvolvimento e a instituição de estudos da área da linguística no Brasil -> pesquisas realizadas com línguas indígenas -> a Linguística se concretiza como disciplina em universidades no Brasil no início do século passado. O desenvolvimento e a instituição de estudos da área da linguística no Brasil -> pesquisas realizadas com línguas indígenas -> a Linguística se concretiza como disciplina em universidades no Brasil no início do século passado. 
Em 1938, Câmara Jr ofertou a disciplina linguística pela primeira vez em uma universidade brasileira. 
Algumas ações de caráter prático realizadas à época, principalmente por Câmara Jr, contribuíram para o desenvolvimento destes estudos que culminaram com a institucionalização definitiva da linguística.

 “O interesse por uma abordagem científica no estudo das línguas indígenas brasileiras já se prenuncia nos anos trinta, (embora trabalhos com características dos períodos anteriores continuassem a ser produzidos após esta data), época em que a Lingüística passava por uma fase de grande desenvolvimento no Exterior, mas ainda inexistia no Brasil.”“O interesse por uma abordagem científica no estudo das línguas indígenas brasileiras já se prenuncia nos anos trinta, (embora trabalhos com características dos períodos anteriores continuassem a ser produzidos após esta data), época em que a Lingüística passava por uma fase de grande desenvolvimento no Exterior, mas ainda inexistia no Brasil.”(SEKI, 1999, p. 262)

Ações prática de Câmara Jr.

Em 1957 publicou o “Manual de anotação fonética de textos em línguas indígenas”. Em 1957 publicou o “Manual de anotação fonética de textos em línguas indígenas”. 
Em seguida, assumiu como primeiro diretor do recém fundado (1958) Setor de Linguística da Divisão de Antropologia do Museu Nacional. 
No ano seguinte, implementou o curso de linguística aplicada às línguas indígenas. E criou o curso de especialização em linguística.

Efetuou o levantamento de obras linguísticas na Biblioteca do Museu Nacional e organizou também uma lista dessas obras tomando como base o artigo de Čestmír Loukotka  do ano de 1939.Efetuou o levantamento de obras linguísticas na Biblioteca do Museu Nacional e organizou também uma lista dessas obras tomando como base o artigo de Čestmír Loukotka  do ano de 1939.
Publica o livro intitulado “A obra linguística de Nimuendajú” (1959). -> Subdividiu um total de 29 obras em quatro categorias: gramática, textos, vocabulário e miscelânea.

Fez diversos elogios à maneira de registrar os sons em sua realidade fonética e ao fato do alemão utilizar um informante definido, sempre que possível, para cada idioma indígena.Fez diversos elogios à maneira de registrar os sons em sua realidade fonética e ao fato do alemão utilizar um informante definido, sempre que possível, para cada idioma indígena.
Críticas àquilo que chamou de “a tradição, em linguística indígena, dos seus antecessores e contemporâneos” (1959, p.6) de, ao coletar o vocabulário, fazer as chamadas listas de palavras, mas de acordo com os interesses etnológicos e a simples colocação lado a lado dos termos afins, sem uma explicação gramatical ou análise mórfica.

Câmara Jr afirmou ainda que trabalhos, “principalmente os dos pesquisadores mais competentes, como Von den Steinen, Koch-Grünberg, Ehrenreich, Nimuendajú constituem uma base de informação precisa, muito útil ao prosseguimento dos estudos linguísticos indígenas.” (1965, p. 126). Câmara Jr afirmou ainda que trabalhos, “principalmente os dos pesquisadores mais competentes, como Von den Steinen, Koch-Grünberg, Ehrenreich, Nimuendajú constituem uma base de informação precisa, muito útil ao prosseguimento dos estudos linguísticos indígenas.” (1965, p. 126).
Presente também na obra de Câmara Jr (1965) é o trabalho de José Oiticica “Do método no estudo das línguas sul-americanas” (1933). Esta obra serviu de referência para diversos pesquisadores e linguístas.  -> Cita a obra “As tribos do alto Madeira” (1925) de Nimuendajú, como referência para estudos da língua Tupi.

Iniciativas de Câmara Jr. e de outros linguístas (como Aryon Rodrigues) na década de 1950 e início da seguinte evidenciam que o desenvolvimento da área dos estudos linguísticos teve um impulso significativo através do estudo das línguas indígenas.Iniciativas de Câmara Jr. e de outros linguístas (como Aryon Rodrigues) na década de 1950 e início da seguinte evidenciam que o desenvolvimento da área dos estudos linguísticos teve um impulso significativo através do estudo das línguas indígenas.

Nimuendajú muitas vezes era (é) a única referência. Nos estudos realizados sobre a língua Tupi, por exemplo, Aryon Rodrigues (1950; 1951; 1952; 1953) utilizou a obra “Tribes of the Lower and Middle Xingu River” (1948) de Nimuendajú.
Estudos mais recentes (SEKI 1999, ARYON, 2005; SILVA 2005; CORREA-DA-SILVA 2011) também citam a importância que tiveram as fontes e informações trazidas pelo etnólogo, ou mesmo fazem usos de textos de Nimuendajú como referência sobre diversos idiomas indígenas.

Exemplo de “obra linguística”

Zur Sprache der Sipáia Indianer (1923):

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Zur Sprache der Sipáia Indianer (1923)

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Wortliste der Šipáia-Sprache (1928)

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Wortliste der Šipáia-Sprache Schluss (1929)

 Wortliste - Lista de palavras

A obra sobre o idioma dos índios Xipaya é dividida em três publicações. A primeira (1923) apresenta a descrição da língua em suas categorias.A obra sobre o idioma dos índios Xipaya é dividida em três publicações. A primeira (1923) apresenta a descrição da língua em suas categorias.

As duas outras publicações (1928 e 1929) trazem as listas de palavras. Nimuendajú realizou esta pesquisa entre os anos de 1916 e 1919.
Para Câmara Jr a obra citada perde parte de seu valor devido ao olhar etnocêntrico do autor.Para Câmara Jr a obra citada perde parte de seu valor devido ao olhar etnocêntrico do autor.

“A perspicácia interpretativa do autor permite-lhe muitas observações genuínas e justas, apesar do modelo inadequado da gramática européia [...] não se aprecia a língua indígena como uma estrutura auto-suficiente, senão cheia de falhas em confronto com a estrutura européia.” (1959, p.10)

Referências

Baldus, Herbert. 1945. Curt Nimuendajú. Boletim Bibliográfico, ano II, volume VIII, p. 91-99. São Paulo: Biblioteca Pública Municipal. Baldus, Herbert. 1945. Curt Nimuendajú. Boletim Bibliográfico, ano II, volume VIII, p. 91-99. São Paulo: Biblioteca Pública Municipal. 
Câmara jr., Joaquim Mattoso. A obra lingüística de Curt Nimuendajú. Rio de Janeiro: Museu Nacional. 1959 
________. Introdução às línguas indígenas brasileiras. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1965.
Dungs, Günther Friedrich. Die Feldforschung von Curt UnckelNimuendajú und ihre theoretisch-methodischen Grundlagen. Verlag: Holos, Bonn, Band 43, 1991. 
Leite, Yonne F. . Notícia dos Trabalhos Lingüísticos Inéditos de Curt Nimuendajú. Revista de Antropologia (São Paulo), São Paulo, v. 8, n.2, p. 14-27, 1960 
Loukotka, Čestmír. Línguas indígenas do Brasil. Revista do Arquivo Municipal, ano 5, v. 54, p. 147-174, São Paulo, 1939. 
Nimuendajú, Curt. Zur Sprache der Sipaia-Indianer". Anthropos, Vol. 18-19, p. 836-857. Wien, 1923. 
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Nimuendajú, Curt e GUÉRIOS, Rosário. F. Mansur. Cartas etnolinguísticas.Revista do Museu Paulista, n. 2, p. 207-241, 1948. 
Oiticica, J. Do método de estudos das línguas sul-americanas. Boletim do Museu Nacional, Rio de Janeiro, Vol. 9: 41-81, 1933 
Rodrigues, Aryon D. Os estudos de lingüística indígena no Brasil. Revista de Antropologia. v. 11, n. 1 e 2, p. 9-21. 1963. 
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_____. Esboço de uma introdução ao estudo da língua Tupi. Logos, v. 13, pág. 43-58, 1951
_____. Esboço de uma introdução ao estudo da língua Tupi. Logos, v. 13, pág. 43-58, 1951
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