Laboratório de Estudos do Discurso, Imagem e Som – LABEDIS
Projeto financiado pelo CNPQ / FAPERJ
Descrição do Projeto:
O LABEDIS é, sobretudo, um espaço acadêmico, destinado à reflexão, pela via da Análise de Discurso, que integre aspectos do verbal e do não verbal. Apresenta como metas o desenvolvimento de projetos de pesquisa, de promoção de seminários e organização de publicações.
Assim no âmbito do LABEDIS, estarão agregados projetos de pesquisa que visam pensar textos verbais e não verbais na interseção de três níveis: a gramaticalidade, a textualidade e a discursividade.
No nível da gramaticalidade, exploram-se os recursos gramaticais pertinentes à organização do texto como um todo. É neste âmbito que o texto é tecido como um todo semântico. Logo, a escolha dos aspectos gramaticais não é aleatória. Não é qualquer elemento gramatical no texto que deve ser explorado, mas sim aqueles que o autor privilegiou como recursos no momento da construção do texto. Este nível se difere do da textualidade porque aqui se explora o conteúdo trabalhado sob a rubrica de “gramática tradicional”.
No nível da textualidade, busca-se explorar as inter-relações desses elementos gramaticais no nível da coesão e coerência. Busca-se explorar as relações de sentido decorrentes da concatenação dos recursos gramaticais, trabalhando-se, principalmente, o texto em sua prospecção e sua concepção como uma estrutura (imaginária) com início, meio e fim. Joga-se, aí, com a circularidade do texto, explorando-se, inclusive, a relação com o título. Neste nível, também são arroladas, em termos de textualidade (verbal e não verbal), o tecido dos diferentes gêneros discursivos.
No nível da discursividade, exploram-se os efeitos de sentido no âmbito do político-ideológico. Quais são os valores de ordem ética, moral, poéticos, metafóricos, etc explorados no texto. Aqui, se trabalharia, de fato, a interpretação do texto, não se prevendo, portanto, respostas fechadas.
Cordenação: Tania Conceição Clemente de Souza
Departamento de Antropologia – Museu Nacional/UFRJ
Ce projet est sur la langue e le peuple Bakairi, habitants dans une région dans le Brésil Central, l’état du Mato Grosso. Aujourd’hui ils comptent 1100 individus. Depuis le XVIII siècle, les Bakairi sont citées pour les voyageurs. Mais, seulement au fin du le XIX siècle, ils suscitent l'intérêt de deux grands savants : Von den Steinen, qui a entreprendre deux excusions au Brésil et Capistrano de Abreu, qui a travaillé avec quelques langues indigènes.
Capistrano de Abreu a écrit deux articles - Os Bacaerys, Revista Brasileira, 1o. ano, Tomo III e IV, Rio de Janeiro, 1895 - où il est en désaccord avec les considérations de Von den Steinen. Il a travaillé aussi avec seulement un consulter, mais la différence entre les deux est qu’ils se ont occupés de deux variétés dialectales de bakairi. Peut-être que le désaccord a à voir avec cela, et aussi parce que leurs méthode de travail sont très différente. À mon vis les deux sont corrects sur les réflexions sur bakairi.
Dans années de 1970, un missionnaire du Summer Institute of Linguistic a vivré entre les Bakairi et a écrite une grammaire e quelques observations sur le fonctionnement discursive du bakairi. Ces travails sont beaucoup inconsistants et beaucoup critiqués pour linguistes, incluant moi mémé.
Músicas Bakairi |
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Canção |
Músicas para ninar |
Categorização Social Catégorisation Social |
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1 |
Âdaise ningo |
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Qualquer indivíduo pode cantar, até crianças. | |
“Pra que vovó?” | "Pourquoi grand-mère?" | |||
2 |
Akukâ Paru |
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“Estou com sede” | "J'ai soif" | |||
3 |
Ariguru |
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“Andorinha“ | "Hirondelle" | |||
4 |
Mojimoi |
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“Aranha” | "Araignée" | |||
5 |
Poroho eremu |
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“Música da raposa“ | "Musique de renard" | |||
Canção |
Músicas de luta metafórica |
Categorização Social |
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6 |
Âriko |
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Apenas os indivíduos com a função social de cantor podem cantar. São práticas passadas por iniciação na arte de cantar. Estes indivíduos são convidados a se tornarem cantores, mas podem aceitar ou não. |
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“dança da mandioca” | “Danse de manioc” | |||
7 |
Yamuigumâ-alâpibeneru ou Yamyrâ |
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“Fantasmas/espíritos” | ”Fantômes / esprits” | |||
8 |
Yamuigumâ-mâe |
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“Espírito da anta” | "Esprit de la tapir" | |||
9 |
Yamuigumâ-nimawâkaheia |
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“Espírito da moça” | "Esprit de la jeune fille" | |||
En travail antérieur (1986) sur la langue Tapirapé (Tupi), j’ai déjà discuté l’inscription du social dans la matérialité de la langue, en le cas la structure dialogique explicit et obligatoire en tout le type de textes. J'ai pris comme point de départ la description que le anthropologue Baldus a proposé pour la société Tapirapé, partagée en groupes - groupes de chasse, groupes de pêche, groupes de agriculture - pour garantir la survivance et la maintenance du group. À mon avis, la dialogie structural de la langue est en phase avec cette organisation.
Descrição das atividades previstas Encontros com a professora Mme. Zlatka Guentchéva, colocando em pauta a discussão sobre a constituição da estrutura da língua cantada com a estrutura da língua do dia-a-dia. Participação em seminários, cujo tema tem sido a estrutura enunciativa de línguas orais. Apresentação de uma ou duas palestras sobre o tema do projeto “Língua cantada, memória e discurso”, bem como com a apresentação da língua e da organização social Bakairi. |
Relação entre as atividades previstas Investimento num intercâmbio constante com Centros de Pesquisa internacionais, como é o caso do LACITO – Langues e civilisations a tradition orale. Investimento numa política linguística de salvaguarda de todo um saber imaterial inscrito na materialidade de tais línguas. |
Resultados esperados Publicações em periódicos. |
Propostas de atividades a serem realizadas no retorno Inserção do conhecimento adquirido no projeto de Doutorado do nativo Bakairi Valdo Xagope. Organização de um evento com os cantores tradicionais Bakairi. Oferta de curso de extensão sobre língua, arte e cultura Bakairi |
Sintaxe e ergatividade em língua indígena
Descrição do Projeto:
O objetivo do projeto é, a partir do levantamento de aspectos de diferentes naturezas que reafirmam o Bakairi como língua ergativa, estender as conclusões que resultam desse aporte a outras línguas indígenas.
No âmbito morfossintático, o Bakairi funciona como língua sintaticamente ergativa sem, no entanto, apresentar marcas de caso no nome. Um sistema de marcadores de pessoa tripartite reflete uma marcação ergativo-absolutiva, marcas que referendam a evidência de caso estrutural.
Em termos configuracionais, tal sistema está ancorado na projeção de um núcleo VP, núcleo previsto para os dois argumentos internos: o objeto direto e o sujeito de verbo unitransitivo. Essa configuração, ao definir sintaticamente a natureza argumental da língua, não só reafirma uma estrutura sintática ergativa, como projeta uma série de restrições à correferencialidade. Dois argumentos de natureza distinta não se correferenciam livremente. Vários morfemas que preenchem o núcleo verbal funcionam como licenciadores da correferência.
Levando-se em conta que os argumentos internos são projetados no DP interno ao VP, vários são os aspectos que merecem ser discutidos a partir daí. Um desses aspectos é o que diz respeito à possibilidade de, no interior dos verbos unitransitivos, haver distinção entre inergativos e inacusativos, como proposta de Perlmutter (1978) e Burzio (1986). A questão que Burzio traz à tona diz respeito à inacusatividade e um fato em torno do qual essa gira: se verbos atribuem caso acusativo a seus objetos, por que um DP no interior de um VP em construções não acusativas não possui caso acusativo? Tal questão se desloca quando vários autores propõem, com base no funcionamento de línguas ergativas, uma reformulação radical na generalização de Burzio. A partir da análise fundada em base empírica de diferentes línguas, surge o consenso de que o problema nada tem a ver com Q-role, nem com a possibilidade de o verbo licenciar o caso acusativo. A generalização atual busca explicitar que o argumento interno toma o caso nominativo (ou absolutivo) quando não há sujeito (nominativo).
Tal reformulação se adequa ao que se passa em Bakairi, ao se constatar que tanto o argumento dos verbos inacusativos quanto o dos inergativos são gerados internamente ao VP, recebendo aí o caso absolutivo. O que leva à afirmativa de que, em termos configuracionais, não há distinção entre os verbos unitransitivos na língua.
Sendo os argumentos dos verbos inacusativos internos ao VP, a transitivização, ao expandir a diátese verbal, projeta o argumento externo, marcado pela agentividade. Esse dado explica por que, em Bakairi, os verbos inacusativos não podem ser transitivizados, a não ser que mudem de paradigma. E aí se instituiria, de fato, a relação agente/paciente. No caso de exemplos em Bakairi de construções agramaticais envolvendo, simultaneamente tema e paciente (como na construção em Bakairi correspondente a ‘X vomitou a carne’), a transitivização não se dá, porque o processo que aí se institui não é o de licenciar um argumento externo agente, e sim um argumento tema. Vale notar que, se o argumento dos verbos inacusativos é, em si, afetado pela ação (e detém, por isso, o status de paciente), o argumento tema também é afetado/deslocado pela ação, havendo, assim, uma concorrência entre esses dois argumentos: ambos não podem ser gerados dentro do VP, como projeção de V, daí o licenciamento de um sintagma adjunto, marcado pelo caso instrumental -ge.
Dados coletados exibiram evidência sobre a impossibilidade de se transitivizar os verbos inacusativos. Entretanto, esses mesmos verbos ocorrem em construções com transitivizador ã, desde que este formativo coocorra com um causativizador. Não é raro, em muitas análises, se aventar que o causativizador, por si só, transitiviza o verbo. Em Bakairi, esses dois formativos não se confundem, tendo cada um uma função própria. A causativização em Bakairi pode ser tratada nos termos de Harley (2006).
Diferentemente de outras línguas Karib, o Bakiri opera com dois processos, como a transitivização e a a detransitivização, mas com funções diferenciadas: o primeiro movimento expande a diátese verbal, enquanto o segundo inverte a diátese, franqueando a correferencialidade. Fatos que sustentam o funcionamento de ergatividade sintática.
Observatório de Carnaval
Histórico
Nos idos dos anos 2000, Souza propôs e coordenou o projeto “Carnaval 2000: Escolas de Samba - Media e Cultura nos 500 anos do Descobrimento” desenvolvido no âmbito da Universidade Federal Fluminense. Na ocasião, Souza (2000) proferiu uma série de análises de imagens alegóricas das Escolas de Samba, promovendo discussões sobre memória histórica perpassada à materialidade do não-verbal e das formas de significação no “âmbito da visibilidade e no âmbito da representatividade”, mensurando, que esse dispositivo permitiria um “campo fértil de discussões” (SOUZA 2000).
Alinhado a esse “fio da meada”, Batista (2017) apresenta em sua pesquisa de mestrado, coorientada pela pesquisadora Tania Clemente de Souza, inúmeras características que pensam o Carnaval por um lugar outro, além daquele da que manifesta a importância da celebração para o país em âmbito cultural. O lugar explanado pelo pesquisador, pretendeu inserir o Carnaval na pauta da linguística através dos vãos discursivos significados ou não. O trabalho apresentou discussões sobre o lugar “Escola de Samba”, produtora de inúmeros discursos sob efeitos e sentidos de sujeitos e suas posições, ideologias, condições de produção, imaginário e arquiteturas. Para além da quarta-feira, a pesquisa ganhou um novo fôlego, no doutorado, também orientada por Souza, propondo investigar as inúmeras faces de Brasis em Escolas de samba através dos dispositivos da análise de discurso de linha francesa em Pêcheux e arquitetura do não-verbal em Souza.
O observatório de Carnaval do Laboratório de Estudos do Discurso, Imagem e Som, (OBCAR/LABEDIS) ganha forma a partir do silenciamento da academia em estudos sobre o Carnaval. Os espaços para discussões da festa para além do universo cultural, são poucos, e raros, principalmente no que consiste em tratar o discurso como fonte de sua observação.
O OBCAR/LABEDIS promoverá como missão primeira, a integração multidisciplinar de áreas da academia, concedendo dessa forma, voz e espaço científico para as discussões carnavalescas no âmbito da graduação e pós-graduação.
Projeto: Fundo Documental Curt Nimuendajú (1905-1945)
O projeto toma como iniciativa dar andamento à criação do Fundo Documental Curt Nimuendajú, de vital importância dentro da formulação da História das Idéias Linguísticas no Brasil. Considerando-se, ainda, a extensão do trabalho deste pesquisador durante os 40 anos vividos no Brasil, este vem a ser considerado também fundador das bases da Etnologia moderna
Tem como meta principal referenciar toda a bibliografia produzida pelo autor dispersa no Brasil, na França e na Alemanha: são 56 citações relativas a artigos, registro de mais de uma centena de lendas e mitos e inúmeras cartas, todas de teor científico ou político, trocadas com eminentes antropólogos no Brasil e no exterior (fase em andamento). São textos escritos em alemão, inglês e português.
O interesse de Curt Nimuendajú, porém, não se restringiu a esses escritos. Há um registro fotográfico que ultrapassa mais de 3000 imagens, distribuídas em museus no Brasil e no mundo. São imagens de diferentes etnias em diferentes ocasiões, no dia a dia, em práticas rituais e retratos individuais. Além de imagens e catalogações de diversos artefatos.
Dentre o acervo de imagens do pesquisador, além de 487 fotos em papel, havia uma coleção de um total aproximado a 500 negativos de vidro e flexíveis. Todo esse acervo físico foi destruído com o incêndio do Museu Nacional. As fotos em papel já fizeram parte de dvd resultado de um projeto coordenado por Marília Facó e por mim (2012). Quanto à coleção de negativos, a partir de subsídios advindos de edital da FAPERJ (E-26/ 111.192/2014), estes foram capturados digitalmente no laboratório da FUNARTE, a partir de um Ofício de cooperação com o Museu Nacional. A fase atual do tratamento dado a este material é restaurar com softwares específicos estas imagens, algumas em estado bastante precário, a fim de investir no resgate de parte do acervo do Museu Nacional.
Sustentabilidade e salvaguarda de patrimônio imaterial: por uma política de preservação das línguas originárias do Brasil
Resumo
Como objetivo geral, o projeto visa investir, imediato, na sustentabilidade e salvaguarda de duas línguas: a língua Puri e a língua Bakairi.
Revitalização e retomada da língua Puri. O povo Puri vive em contexto urbano, cuja população está em torno de 675 indivíduos, distribuídos pelos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais. A língua Puri é uma das classificadas como língua silenciada, entretanto, há um lembrador que, até bem recentemente, se recusava a participar do movimento de retomada da língua e da cultura Puri. O trabalho com a etnia Puri se insere também em projeto de Mestrado - Perspectivas Sobre a Revitalização da Língua e da Cultura Puri -, desenvolvido por Carmelita Lopes dos Santos no PROFLLIND/MN.
Registro da língua cantada Bakairi. O povo Bakairi está localizado em terras Bakairi, no estado de Mato Grosso. É a modalidade de língua Bakairi, falada na Aldeia Pakuenra, que estudamos desde 1984. Ao longo do convívio com os Bakairi, vemos o quanto a língua vem sofrendo modificação em contato com o Português, além do grau de bilinguismo atestado por mais de 99 por cento dos 1100 falantes. Só dois indivíduos bem idosos são monolíngues. Quanto aos jovens, estes vêm se interessando pouco pelas tradições e manifestações culturais do povo. Uma dessas tradições, por exemplo, é o ensinamento de velhas canções Bakairi. Estas são cantadas por uma modalidade de língua bem antiga, a qual os jovens pouco dominam, além de não saberem cantar.